É impressionante como a oposição brasileira vive a ansiosa expectativa do rompimento entre a presidente Dilma Rousseff e o seu antecessor, o Luiz Inácio Lula da Silva. Logo depois da posse, em janeiro ainda, todos os gestos da nova ocupante do Palácio do Planalto foram seguidos pelos órgãos de imprensa com olhos de lupa, tanto pela curiosidade natural em relação ao governo recém-nascido como, principalmente, em busca de sinais que revelassem a “cara” da nova administração. Se Dilma seria simplesmente uma tutelada ou se assumiria por inteiro, afastando-se do estilo Lula de governar.
A formação do novo Ministério não foi suficiente para dar qualquer definição, uma vez que se realmente o ex-presidente teve uma influência considerável nas indicações, Dilma também teve suas opções pessoais. Além do mais, com uma base aliada tão grande e diversificada, a nova equipe terminou se constituindo, como é de praxe em casos assim, numa verdadeira “salada” partidária, com ingredientes que já chegavam prontos para a assinatura oficial.
Nas semanas seguintes, porém, começaram a ser apontadas as diferenças entre os estilos de Dilma Rousseff e do antecessor. Enquanto este, por sua formação sindical, sempre gostou mais dos microfones e das reuniões amplas, disposto como é a ser o centro das atenções, mestre de cerimônias e animador de platéias, a presidente adotou uma postura mais reservada, muito de acordo com o seu perfil técnico e objetivo, priorizando as atividades mais fechadas e deixando de lado os palanques.
Foi o suficiente para que alguns apressados começassem a insinuar insatisfações de Lula e a antecipar o crescente afastamento entre “o criador e a criatura”. Foi visível o esforço para se elogiar o comportamento de Dilma, talvez como forma de estimular o “afastamento” anunciado. A presidente, porém, optou por não alimentar os rumores e prosseguiu com seus contatos frequentes com o antecessor, consultando-o sempre que necessário, especialmente em relação às pendências políticas geradas pelo “balaio de gatos” que é a base aliada governista.
Aí surgiu o primeiro grande escândalo da atual administração, envolvendo justamente o mais poderoso ministro da Esplanada, o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, flagrado com os rendimentos milionários da sua empresa de consultoria. Chamado a Brasília não se sabe por quem, o ex-presidente Lula atraiu para si todos os holofotes, reuniu-se com lideranças políticas e tentou articular uma saída para garantir a permanência do seu homem de confiança – coisa que ele não havia conseguido no primeiro escândalo em que Palocci se envolveu, o famoso caso da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo.
E, então, sobraram notícias dizendo que Dilma havia perdido as rédeas do seu governo, que a intervenção de Lula era uma demonstração de como a presidente não sabia resolver crises políticas e que ela não passava de uma ocupante privilegiada do Palácio do Planalto, portanto, uma “tutelada”. Agora que Dilma resolveu a pendenga, e não do jeito que Lula teria gostado, ao afastar Palocci e colocar no seu lugar uma senadora que tem o perfil técnico, o quadro se reverteu e já há quem diga que a presidente reassumiu o governo e, em meio às pejorativas classificações – como “República de saias” e Clube da Luluzinha” –, já se diz que finalmente o governo tem nova “cara”
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